Ícone do site Blog do Dr. Matheus Trilico – Neurologista referência em TEA e TDAH adulto

Autismo e TDAH – qual a relação em adultos?

Autismo e TDAH - Qual a relacao?

Autismo e TDAH - Qual a relacao?

Você já se perguntou qual a relação entre autismo e TDAH? De acordo com a literatura científica, 50 a 70% dos indivíduos com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) também apresentam comorbidade com Transtorno de Déficit de atenção e Hiperatividade (TDAH), isso inclui o público adulto. Mas você não acha intrigante essa taxa tão elevada? É por isso que neste artigo explicaremos um pouco mais sobre a associação entre autismo e TDAH! Vamos lá?

O que é o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)?

Falamos desse assunto detalhadamente em nosso artigo “O que é autismo“. Mas, de forma muito resumida, trata-se de um complexo transtorno do neurodesenvolvimento, habitualmente reconhecido na infância – embora o diagnóstico tardio seja relevante- e que pode afetar as habilidades sociais, de comunicação, sensoriais, de autorregulação e diversas outras.

Indivíduos de todas as idades diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem necessitar de diferentes graus de assistência (apoio). Isso implica que, embora alguns possam gerenciar com menos dificuldade tarefas cotidianas e pessoais, outros podem necessitar de mais suporte para realizar atividades fundamentais, como higiene pessoal, vestir-se e alimentação.

Esse conjunto de sinais e sintomas forma o “espectro” da condição, acometendo os pacientes de diversas maneiras e em graus variados, podendo ou não ser acompanhado de outras comorbidades como o TDAH, por exemplo. Bem, mas e o que é o TDAH? Continue lendo para entender qual a relação entre autismo e TDAH!

O que é o Transtorno de Déficit de atenção e Hiperatividade (TDAH)?

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição médica que afeta tanto crianças quanto adultos. Caracteriza-se principalmente por dificuldades de atenção, impulsividade e hiperatividade, podendo predominar alguma dessas características. Esses sintomas podem afetar a vida diária de qualquer pessoa, incluindo o desempenho escolar ou profissional, as relações interpessoais e a autoestima. É possivel fazer uma auto-avaliação para nortear se esse é um diagnóstico possível para seu caso através da escala ASRS-18.

Em adultos, os sintomas do TDAH podem se manifestar como dificuldade em organizar tarefas, problemas com empregos anteriores, frustração crônica, impaciência e oscilações de humor. Além disso, os adultos com TDAH podem ter problemas com relacionamentos interpessoais e autocontrole.

Em crianças, os sintomas do TDAH podem incluir dificuldade em prestar atenção, esquecimento frequente de tarefas diárias, dificuldade em seguir instruções, impulsividade e dificuldade em ficar parado. As crianças com TDAH também podem ter problemas na escola e em casa devido à sua hiperatividade e dificuldade em se concentrar. É importante lembrar que todos esses sintomas devem ser avaliados por um profissional de saúde para um diagnóstico preciso.

Autismo e TDAH – de onde vem essa associação?

A prevalência de TDAH em pessoas com TEA varia, aproximadamente, de 50 a 70%, segundo pesquisas. Essa variabilidade entre os estudos mostra que o TDAH, muitas vezes, não é uma entidade facilmente mensurável nas pessoas com autismo. E por que isso acontece? Para entender tamanha dificuldade diagnóstica, precisamos falar um pouco sobre a atenção no TEA.

Autismo e Atenção

A atenção é um processo que nos ajuda a selecionar e focar em informações específicas, seja algo que estamos percebendo ao nosso redor ou até mesmo uma memória. Ela é uma parte crucial de nossas funções executivas – as habilidades que nos permitem planejar e atingir objetivos – e pode ser dividida em 4 tipos: sustentada, seletiva, dividida e alternada.

Quando falamos de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), alguns aspectos da atenção se destacam. Por exemplo, elas costumam ter uma atenção sustentada (capacidade de manter o foco) e focada (capacidade de direcionar o foco) mais fortes do que pessoas sem o transtorno. No entanto, elas podem ter dificuldades para direcionar a atenção para estímulos não sociais e para se “desligar” de forma voluntária em certos contextos.

Além disso, pessoas com TEA e sem deficiência intelectual não apresentam comprometimento na filtragem atencional, que é a capacidade de filtrar informações irrelevantes.

Um ponto importante é que, embora existam estudos sugerindo que o TEA e o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) possam coexistir, “As deficiências de atenção no autismo tendem a ser mais do tipo ‘não ouvir’ e ‘dificuldade em mudar o foco’ do que do tipo ‘curta capacidade de atenção’ e ‘distração excessiva’ ”. Isso sugere que esses sintomas atencionais podem ser inerentes ao próprio TEA, e não necessariamente indicativos de um TDAH comórbido.

As emoções e as sensações afetam a atenção

O Transtorno do Espectro Autista está frequentemente ligado a uma diminuição da atenção compartilhada, o que pode resultar em dificuldades na comunicação social. Pesquisas atuais indicam que a amígdala, uma região cerebral, desempenha um papel fundamental ao processar estímulos emocionais e sensoriais, afetando nossa capacidade de concentração.

A amígdala desempenha um papel central na produção de sinais diretos e indiretos nas vias sensoriais, moldando a forma como os eventos emocionais são representados. Esses efeitos modulatórios implementam mecanismos especializados de “atenção emocional” que podem complementar, mas também competir com outras fontes de controle sobre a percepção.

Assim, a hiper-reatividade sensorial pode se associar à atenção superseletiva, hiper-reativa e superfocada; comportamentos perseverantes e estereotipados; e excelentes capacidades de memória – mas também com grandes prejuízos sociais. Esse tipo particular de atenção no autismo pode ser confundido com desatenção do TDAH! Ou seja, é justamente o oposto.

Conclusão

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) podem ser difíceis de distinguir. Ambos são distúrbios neurobiológicos com alguns déficits neuropsicológicos muito semelhantes.

Além disso, parece existir uma sobreposição genética entre TEA e TDAH, indicando que eles podem ser manifestações diferentes de um transtorno abrangente. Isso levanta a hipótese de que existe um continuum único, com a regulação emocional sendo um fator comum crucial para ambas as condições.

Embora os sintomas de TDAH sejam comumente observados em pessoas com TEA, a atenção seletiva é significativamente mais comum nos autistas. Isso sugere que o transtorno de atenção é uma característica inerente ao TEA, e não necessariamente indicativo de TDAH comórbido.

Assim, entendemos que existe sim uma relação entre autismo e TDAH, porém a possibilidade de erro diagnóstico quando se trata de associação comórbida é considerável e exige acompanhamento especializado ao longo do tempo a fim de reavaliar frequentemente esse paciente e definir o melhor tratamento individualmente.

Sair da versão mobile