A insônia é um distúrbio do sono que afeta até 35% dos adultos. Ela é caracterizada por dificuldade para dormir, seja para iniciar o sono ou para mantê-lo por tempo adequado. A insônia pode ter consequências que vão desde alteração do humor até outras mais graves, como a sonolência diurna excessiva, gerando maior risco de acidentes e danos à saúde. Por isso, entender o que causa insônia é tão importante!
Inicialmente, é preciso compreender que a insônia pode ser primária (ela mesma é a doença) ou secundária a outras causas. A insônia secundária é a mais comum e normalmente se relaciona ao estresse, estilo de vida, hábitos ruins, depressão, uso de determinados medicamentos, entre outros. Se você ficou curioso(a) e quer descobrir o que causa insônia, explicaremos neste artigo. Continue lendo!
Principais Tópicos Deste Artigo
Todas as insônia são iguais?
Nem toda insônia é igual; as pessoas podem experimentar esse transtorno de maneiras distintas. A insônia de curto prazo acontece apenas por um breve período, enquanto a insônia crônica dura três meses ou mais. Para algumas pessoas, o principal problema é adormecer (início do sono), enquanto outras lutam para permanecer dormindo (manutenção do sono).
O que causa insônia influencia significativamente na forma como uma pessoa é afetada e pode variar significativamente com base em sua causa, gravidade e como ela é influenciada por condições de saúde subjacentes.
Quais são as causas comuns de insônia?
Existem inúmeras causas potenciais para a insônia e, em muitos casos, vários fatores podem estar envolvidos. A falta de sono também pode desencadear ou piorar outras condições de saúde, criando uma cadeia complexa de causa e efeito.
Em um nível holístico, acredita-se que a insônia seja causada por um estado de hiperexcitação que atrapalha o ato de adormecer ou a manutenção do sono. A hiperexcitação pode ser mental ou física, sendo desencadeada por uma série de circunstâncias e problemas de saúde.
O estresse causa insônia
Quando perguntamos o que causa insônia, certamente o estresse é um vilão. Ele pode provocar uma alteração profunda no organismo, sendo um verdadeiro desafio para um sono de qualidade. Essa resposta ao estresse pode vir do trabalho, da escola e das relações sociais. Além disso, a própria incapacidade de dormir pode se tornar uma fonte de estresse, tornando cada vez mais difícil quebrar o elo entre estresse e insônia.
Mas por quê algumas pessoas dormem tranquilamente após um dia agitado e outras não? Bem, os pesquisadores acreditam que alguns indivíduos são mais vulneráveis a problemas de sono induzidos pelo estresse. Essas pessoas são consideradas como tendo alta “reatividade do sono”.
Dormir em horários irregulares causa insônia?
A resposta é sim, pode causar! Em um mundo ideal, o relógio biológico do nosso corpo, também conhecido como ritmo circadiano (figura 1), normalmente segue o padrão habitual de dia e noite, sendo influenciado principalmente pela variação de luz e temperatura. Por isso, muitas pessoas têm horários habituais de sono que acabam gerando uma alteração neste ciclo circadiano padrão.
Dois exemplos bem conhecidos são o jet lag e os trabalhos noturnos. O jet lag prejudica o sono pois, normalmente, o nosso corpo não consegue se ajustar a uma mudança rápida no fuso horário. Já o trabalho noturno exige que a pessoa se mantenha acordada durante a noite e durma durante o dia, invertendo o ciclo natural de sono e vigília. Ambos os exemplos podem causar distúrbios do ritmo circadiano e, consequentemente, insônia.
Em algumas pessoas, os ciclos circadianos podem ser alterados para frente ou para trás sem uma causa clara, resultando em dificuldades persistentes no tempo de sono e em sua qualidade geral.
Estilo de vida
Os hábitos e as rotinas não saudáveis relacionados ao estilo de vida, bem como alguns alimentos e bebidas podem aumentar o risco de insônia.
Mas o que causa insônia dentre esses hábitos? A seguir colocamos alguns exemplos:
- Manter o cérebro estimulado até tarde da noite, como trabalhando, estudando ou usando dispositivos eletrônicos.
- Cochilar no final da tarde pode atrapalhar seu sono e dificultar o sono à noite.
- Dormir até mais tarde para compensar o sono perdido pode confundir o relógio interno do seu corpo e dificultar o estabelecimento de um horário de sono saudável. Dormir até mais tarde não compensa uma noite mal dormida!
- A cama foi feita para dormir. Utilizá-la para atividades que exigem atenção, como trabalhar ou estudar, pode confundir seu cérebro e gerar insônia.
- A cafeína é um estimulante que pode permanecer no organismo por horas, dificultando o sono e potencialmente contribuindo para a insônia quando usado à tarde e à noite.
- A nicotina presente nos cigarros é outro estimulante que pode afetar negativamente o sono.
- O álcool, ao contrário do que muitos pensam, não ajuda a dormir. Na verdade, ele pode piorar o sono ao modificar sua arquitetura, fragmentando-o e o tornando não restaurador.
- Refeições “pesadas” e alimentos apimentados podem dificultar a digestão e prejudicar o sono se consumidos à noite.
Distúrbios da saúde mental
Desordens da saúde mental, como ansiedade, depressão e transtorno bipolar frequentemente dão origem a problemas de sono. Estima-se que 40% das pessoas com insônia têm algum transtorno mental.
Essas condições podem incitar pensamentos negativos e gerar uma hiperestimulação mental que prejudica o sono. Além disso, estudos indicam que a insônia pode exacerbar transtornos de humor e ansiedade, piorando os sintomas e até aumentando o risco de suicídio em pessoas com depressão.
Dor
Ainda quando perguntamos o que causa insônia, não podemos nos esquecer da dor. Afinal, ninguém consegue dormir com ela, não é mesmo?
Quase qualquer condição que causa dor pode atrapalhar o sono, seja ela aguda ou crônica. Até 80% dos pacientes com dor crônica apresentam algum distúrbio do sono e a própria insônia também pode piorar o quadro de dor, gerando um ciclo com inúmeros prejuízos ao paciente.
Além de diminuir o tempo total de sono, a dor crônica também pode causar despertares noturnos frequentes. Na verdade, esta parece ser a principal queixa relacionada ao sono em pessoas com dor crônica. Para aqueles que vivem com dor crônica, priorizar o sono pode ser um componente chave no caminho para a recuperação.
Doenças neurológicas e distúrbios específicos do sono
Doenças que afetam o sistema nervoso estão associadas a um risco maior de insônia em relação à população geral. Os distúrbios neurodegenerativos, como as demências, podem alterar o ritmo circadiano de uma pessoa e a percepção dos sinais diários que impulsionam o ciclo sono-vigília. A confusão noturna comum nesses pacientes pode piorar ainda mais a qualidade do sono.
Alterações do neurodesenvolvimento, como o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), podem causar hiperexcitação que torna difícil para essas pessoas dormirem quando precisam. Problemas do sono também são comuns em crianças com Transtorno do Espectro do Autista e podem persistir na idade adulta.
A apneia obstrutiva do sono, que causa inúmeras pausas respiratórias e interrupções temporárias do sono, afeta até 20% das pessoas e pode ser um fator subjacente para insônia e sonolência diurna.
A Síndrome das Pernas Inquietas (SPI) também prejudica o sono pelo forte desejo de mover as pernas ao se deitar. Comportamentos anormais durante o sono, que são conhecidos como parassonias e incluem o sonambulismo, os pesadelos e a paralisia do sono, também são prejudiciais para a qualidade do mesmo.
[rock-convert-cta id=”1672″]
O que causa insônia em idosos?
Estudos sugerem que a insônia ocorre em 30-48% dos adultos mais velhos, mas na prática clínica esses números podem parecer ainda maiores. Como em pessoas mais jovens, estresse, doenças físicas, problemas de saúde mental e hábitos inadequados de sono podem causar insônia nos idosos.
No entanto, os idosos costumam ser mais sensíveis a esses fatores, às diversas condições crônicas de saúde, isolamento social e ao uso de vários medicamentos, que inclusive podem interferir diretamente na qualidade do sono.
Ainda, sabemos que pessoas com mais de 60 anos têm menor eficiência do sono. Eles passam menos tempo em sono profundo e sono REM, o que torna mais ter seu sono perturbado. Uma diminuição na exposição à luz do dia e estímulos ambientais reduzidos podem afetar o ritmo circadiano dessas pessoas, especialmente para os idosos em ambientes de cuidados supervisionados.
O que causa insônia nos adolescentes?
Estima- se que a insônia afete até 23,8% dos adolescentes. Mudanças biológicas e ambientais estimulam os adolescentes a ficarem acordados até altas horas, mas eles geralmente não conseguem dormir o tempo que gostariam na manhã seguinte devido ao horário escolar.
Ainda, os adolescentes podem ser especialmente suscetíveis ao estresse dessa fase da vida, a pressão na escola, no trabalho e nas obrigações sociais. Para piorar, os adolescentes também apresentam altas taxas de uso de dispositivos eletrônicos no quarto, enquanto deitados, prestes a dormir. Cada um desses fatores contribui para o alto índice de insônia durante a adolescência.
Neste artigo te mostramos o que causa insônia, passando desde situações mais simples, como o uso de cafeína, até outras mais complexas, como as doenças neurodegenerativas. Você viu a importância de uma abordagem ampla do paciente diante de tantos fatores causais e também como é fundamental o acompanhamento com um neurologista. Agora é hora de você se cuidar melhor! Vamos lá?
Dr. Matheus Trilico é neurologista referência no diagnóstico e acompanhamento de TEA e TDAH em adultos. Formado em medicina pela Faculdade Estadual de Medicina de Marília (FAMEMA) e com residência em Neurologia pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR) e mestre também pela UFPR. Além de atuar como neurologista em consultório privado e no Sistema Único de Saúde (SUS), realiza também atividades acadêmicas. Dr. Matheus Trilico acredita que o ser humano precisa conhecer bem sua saúde e, por isso, transmite as informações sobre o quadro clínico de forma clara e didática, reafirmando seu compromisso com a exímia relação médico-paciente. Amante da tecnologia, busca utilizá-la para agregar conhecimento e facilitar a vida dos pacientes, mas sem perder seu foco: o humanismo e a qualidade do atendimento médico.
CRM 35.805/PR – RQE 24.818