Entender as particularidades da relação entre autismo e climatério pode ser ao mesmo tempo desafiador e esclarecedor. O climatério (popularmente chamado de “menopausa”) é um período singular na vida de qualquer mulher e pode ser ainda mais intenso naquelas autistas. Por isso, compreender as nuances por trás dessa fase da vida nesse público específico é fundamental para darmos o suporte adequado. Quer compreender melhor esse assunto fascinante? Então continue lendo – este artigo é para você!
Principais Tópicos Deste Artigo
O Autismo em Mulheres
Por muitos anos, o autismo foi amplamente estudado e compreendido através de um viés masculino, o que levou a um reconhecimento tardio e uma maior dificuldade diagnóstica em mulheres. Contudo, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) nas mulheres possui características próprias que, muitas vezes, ficam encobertas por normas sociais e estereótipos de gênero.
Mulheres autistas frequentemente desenvolvem habilidades sofisticadas de camuflagem social, adaptando-se a comportamentos que lhes permitam “passar despercebidas”. Essa adaptação, enquanto útil em alguns contextos, pode resultar em diagnósticos perdidos ou atrasados, contribuindo para sentimentos de isolamento e alienação. Infelizmente, muitos profissionais de saúde ainda não estão totalmente equipados para reconhecer os sinais sutis do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em mulheres.
O público feminino, incluindo autistas, apresenta inúmeras particularidades – uma delas é o climatério! Esse é um período particularmente desafiador para muitas mulheres e entenderemos melhor a seguir!
O Climatério
Em meio às complexidades do TEA, as mulheres enfrentam uma outra fase crítica de transformação: o climatério. Esse período, que marca a transição para a menopausa, traz mudanças significativas nos níveis hormonais, afetando o corpo e a vida da mulher de maneiras dinâmicas e, muitas vezes, desafiadoras.
Nesta fase, é comum observar uma diminuição nos níveis de estrogênio e progesterona, hormônios que influenciam diretamente não apenas o ciclo menstrual, mas também a regulação emocional e a estabilidade mental. As ondas de calor, mudanças de humor e a queda de energia são reflexos comuns, mas que ganham uma complexidade particular quando se tratam de mulheres dentro do espectro autista.
Para muitas, o climatério não é apenas uma questão fisiológica, mas também um momento de introspecção e redefinição, em que se revisitam seus próprios papéis dentro da família, da carreira e da sociedade. Essa reflexão amplia-se ainda mais para mulheres autistas, que podem enfrentar desafios únicos durante essa transição de vida, reforçando a importância da relação entre autismo e climatério.
Climatério ou Menopausa? Entenda a diferença
A principal diferença entre climatério e menopausa é que o climatério é o período de transição da fase reprodutiva para a não reprodutiva, enquanto a menopausa é a última menstruação da mulher:
- Climatério: É o período de transição que pode durar vários anos. A redução gradual da produção hormonal pelos ovários provoca diversas mudanças no corpo feminino.
- Menopausa: É o momento específico em que a mulher passa 12 meses consecutivos sem menstruar.
O climatério, assim, emerge não só como uma transformação física, mas simbólica, ao cruzar com questões de identidade e resiliência. E é nesta intersecção entre autismo e climatério que surgem descobertas reveladoras, exploradas no próximo tópico.
O Climatério no Autismo
Quando autismo e climatério se encontram, as mudanças hormonais podem intensificar ainda mais experiências já complexas. Para mulheres no espectro autista, essa fase pode diferir significativamente da vivenciada por mulheres neurotípicas, revelando particularidades dignas de atenção e estudo.
As mudanças nos hormônios, além de trazer os sintomas típicos do climatério, como ondas de calor e instabilidade de humor, pode exacerbar as sensibilidades sensoriais já presentes no autismo. Pesquisas indicam que mulheres autistas relatam sentir essas mudanças de maneira mais aguda, afetando sua rotina diária e bem-estar¹.
Além disso, alterações hormonais podem amplificar características autistas, como dificuldades de comunicação e interação social, tornando o manejo das emoções um desafio ainda maior quando unimos autismo e climatério. Isso se reflete não apenas em questões físicas, mas também emocionais e sociais. O apoio e a compreensão tornam-se, portanto, essenciais para manejar essa fase de maneira saudável.
O reconhecimento dessas diferenças é crucial para proporcionar um suporte adequado às mulheres autistas durante o climatério. Esse período é também uma janela de oportunidade para aprofundar o autoconhecimento e buscar estratégias que promovam o bem-estar.
Este cruzamento entre autismo e climatério pode, paradoxalmente, oferecer um caminho de descoberta pessoal. A seguir, iremos abordar como o climatério pode ser um momento de revelação e autodiagnóstico para muitas mulheres!
A Descoberta do Autismo no Climatério
O climatério emerge não apenas como uma transição biológica, mas como um momento revelador para muitas mulheres autistas. Pesquisas² demonstram que esta fase da vida frequentemente funciona como um “ponto de virada” para o autoconhecimento e diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Durante o climatério, as máscaras sociais construídas ao longo da vida começam a se deteriorar. As estratégias de camuflagem, tão habilmente desenvolvidas por mulheres autistas para se adaptarem socialmente, tornam-se cada vez mais difíceis de manter. As mudanças hormonais intensificam características autistas, tornando mais evidente o que antes estava sutilmente mascarado.
Muitas mulheres relatam que é justamente neste período que começam a compreender padrões de comportamento, sensibilidades e desafios sociais que as acompanharam por toda a vida. A exaustão de décadas de “passar despercebida” se acumula, levando muitas ao processo de investigação e, eventualmente, ao diagnóstico.
A descoberta do autismo no climatério não é apenas um rótulo, mas uma chave de compreensão para uma vida inteira de experiências incompreendidas. Representa um momento de ressignificação, onde peças soltas de uma história pessoal finalmente começam a se encaixar.
Este processo de autodescoberta abre caminho para estratégias de apoio mais adequadas e personalizadas, tema que exploraremos a seguir.
Autismo e Climatério: Estratégias de Apoio
Diante das complexidades do climatério para mulheres autistas, estratégias de apoio personalizadas tornam-se fundamentais. O cuidado integral deve considerar não apenas os aspectos físicos, mas também emocionais e sociais.
O acompanhamento multidisciplinar é fundamental. Buscar profissionais especializados em autismo e saúde feminina, realizar avaliações que considerem as particularidades do TEA e considerar terapias hormonais adaptadas são medidas essenciais para uma abordagem integral da saúde nessa fase da vida.
O suporte psicológico emerge como ferramenta crucial nessa jornada. A terapia com profissionais conhecedores do autismo, a participação em grupos de apoio específicos para mulheres autistas e o trabalho em estratégias de regulação emocional podem proporcionar recursos valiosos para navegar pelas transformações do climatério.
O autocuidado ganha contornos personalizados para mulheres autistas. Desenvolver rotinas que respeitem as sensibilidades sensoriais, praticar técnicas de mindfulness e criar ambientes de conforto durante o climatério são estratégias que podem minimizar o estresse e promover bem-estar.
A comunidade e a conexão revelam-se elementos fundamentais nesse processo. Buscar redes de apoio de mulheres autistas, compartilhar experiências e validar vivências únicas podem transformar esse período em uma jornada de descoberta e empoderamento.
Conclusão
O encontro entre autismo e climatério revela-se muito mais do que uma simples transição biológica. É um momento de profunda ressignificação, onde mulheres autistas podem finalmente compreender sua própria jornada, desvendar máscaras sociais e reconhecer sua identidade única.
As pesquisas científicas³ têm destacado que essa fase não representa um fim, mas um novo começo. Um período de descoberta, autoconhecimento e potencial transformação pessoal. As particularidades do autismo feminino, antes invisibilizadas, ganham luz e complexidade.
Compreender o climatério no espectro autista significa ir além dos marcadores médicos tradicionais. Significa reconhecer a diversidade das experiências femininas, validar narrativas que historicamente foram silenciadas e promover uma abordagem verdadeiramente inclusiva da saúde neurodiversa.
A jornada de cada mulher autista é única. O climatério, com todas as suas nuances e desafios, pode ser um caminho de empoderamento, quando acompanhado de compreensão, apoio e acolhimento -pense nisso e compartilhe essa informação com mulheres que precisam de apoio!
Referências
- GROENMAN, A. P. et al. Menstruation and menopause in autistic adults: Periods of importance? Autism, v. 26, n. 6, p. 1563-1572, 2021.
- BRADY, M. J. et al. “A perfect storm”: Autistic experiences of menopause and midlife. Autism, v. 28, n. 6, p. 1405-1418, 2024.
- MOSELEY, R. L. et al. Autism research is ‘all about the blokes and the kids’: Autistic women breaking the silence on menopause. British Journal of Health Psychology, v. 26, n. 3, p. 709-726, 2021.

Dr. Matheus Trilico é neurologista referência no diagnóstico e acompanhamento de TEA e TDAH em adultos. Formado em medicina pela Faculdade Estadual de Medicina de Marília (FAMEMA) e com residência em Neurologia pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR) e mestre também pela UFPR. Além de atuar como neurologista em consultório privado e trabalhou por anos no Sistema Único de Saúde (SUS), realizando também atividades acadêmicas. Dr. Matheus Trilico acredita que o ser humano precisa conhecer bem sua saúde e, por isso, transmite as informações sobre o quadro clínico de forma clara e didática, reafirmando seu compromisso com a exímia relação médico-paciente. Amante da tecnologia, busca utilizá-la para agregar conhecimento e facilitar a vida dos pacientes, mas sem perder seu foco: o humanismo e a qualidade do atendimento médico.
CRM 35.805/PR – RQE 24.818