As estereotipias são ações semi-voluntárias (passíveis de serem modificadas), não direcionadas a um objetivo, que geram comportamentos motores e verbais repetitivos. Embora tradicionalmente descritas em crianças com TEA, também podem ser encontradas no autismo em adultos, em pessoas neurotípicas e em outras doenças. Quer entender melhor o que são as estereotipias? Continue lendo este artigo feito para você!
Principais Tópicos Deste Artigo
O que é estereotipia?
Trata-se de comportamentos motores ou verbais repetitivos, não direcionados a um objetivo, que se repetem continuamente da mesma maneira durante um período de tempo e em várias ocasiões. Inicialmente, as estereotipias eram tidas como involuntárias. Estudos mais recentes, entretanto, sugerem que sejam semi-voluntárias, ou seja, embora muitas vezes passem despercebidas pelo próprio paciente, elas podem sim, ao menos em parte, serem suprimidas ou modificadas.
Elas podem estar presentes tanto em em crianças quanto em adultos, mas são mais comuns e melhor estudadas em crianças. Em adultos, as estereotipias podem ser tanto fisiológicas quanto patológicas. As fisiológicas mais comuns em adultos são sacudir as pernas, tocar o rosto, brincar com canetas ou cabelos, roer unhas, bater as mãos, bater os pés e balançar o corpo.
Em adultos, quando pensamos nas estereotipias relacionadas às doenças, prevalecem as condições neuropsiquiátricas, como distúrbios neurodegenerativos, encefalite viral, encefalite autoimune, acidente vascular cerebral, doença psiquiátrica e uso de drogas.
O que causa estereotipia em pessoas com autismo?
As estereotipias podem ser uma leitura visível do estado de ser de uma pessoa, tanto negativo quanto positivo. A intensidade das estereotipias correlaciona-se com a ansiedade e a gravidade dos sintomas centrais do autismo e estudos mostram que esse comportamento em pessoas com autismo aumenta após um gatilho estressante.
No autismo, as estereotipias podem ter múltiplas causas e objetivos. Uma pessoa autista pode produzir estereotipias quando está hiperexcitada, ociosa, ansiosa ou desregulada sensorialmente. Dessa forma, ela produz comportamentos com o objetivo de se autorregular. Por outro lado, alguns comportamentos estereotipados acontecem devido a uma busca sensorial, ou seja, o paciente com TEA gosta da sensação de um determinado movimento e começa a repeti-lo, buscando se saciar sensorialmente. Mas, então, esses movimentos acontecem apenas em situações estressantes? Não!
Ao contrário do que muitos pensam, estereotipias também ocorrem quando as pessoas estão relaxadas e felizes. Elas são descritas por muitos autistas como reconfortantes, calmantes e até agradáveis. O “stimming” (como também são conhecidos esses movimentos) pode ajudar a organizar pensamentos, focar ou se livrar do excesso de energia. Isso pode ser especialmente útil em ambientes onde o paciente se sente sensorialmente sobrecarregado (locais públicos, festas, aviões dentre outros).
É possível controlar o “stimming”?
As estereotipias geralmente começam inconscientemente ou involuntariamente, mas os pacientes descrevem a autoperpetuação intencional dos movimentos por causa do conforto e controle que eles proporcionam. Cessar o “stimming” pode ser motivado interna ou externamente.
Muitos autistas relatam uma perda de interesse no comportamento, ou um sentimento de que esse tipo de comportamento seria inadequado para continuar. Outros relatam um sentimento de realização emocional, ou que algo foi concluído. Juntos, esses auto-relatos de pessoas com autismo destacam temas de processamento sensorial aprimorado, regulação emocional, melhor foco, concentração e atenção.
Assim, para controlar esses movimentos, o paciente ou responsável (no caso das crianças com TEA) precisa, inicialmente, entender os gatilhos. A partir de então, são várias as estratégias que podem ser utilizadas por uma equipe multidisciplinar para ajudar a controlar o sintoma. Em alguns casos, medicamentos podem ser utilizados para tratar comorbidades associadas ao autismo que podem gerar as estereotipias (TDAH, ansiedade, depressão…).
Nesse texto explicamos para você o que é estereotipia, quais as principais formas. Mostramos que existem estereotipias primárias e secundárias, sendo que nem todas estão relacionadas com o autismo. Descrevemos supostas causas de “stimming” no TEA e mostramos que é necessária uma abordagem multidisciplinar para auxílio no controle do sintoma. Agora que você já entendeu sobre esse assunto, descubra também o que é ecolalia!
Dr. Matheus Trilico é neurologista referência no diagnóstico e acompanhamento de TEA e TDAH em adultos. Formado em medicina pela Faculdade Estadual de Medicina de Marília (FAMEMA) e com residência em Neurologia pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR) e mestre também pela UFPR. Além de atuar como neurologista em consultório privado e no Sistema Único de Saúde (SUS), realiza também atividades acadêmicas. Dr. Matheus Trilico acredita que o ser humano precisa conhecer bem sua saúde e, por isso, transmite as informações sobre o quadro clínico de forma clara e didática, reafirmando seu compromisso com a exímia relação médico-paciente. Amante da tecnologia, busca utilizá-la para agregar conhecimento e facilitar a vida dos pacientes, mas sem perder seu foco: o humanismo e a qualidade do atendimento médico.
CRM 35.805/PR – RQE 24.818