A fadiga na Esclerose Múltipla (EM) é um sintoma muito comum relatado pelos pacientes. No entanto, como a sensação de falta de energia e cansaço é comum a várias doenças, frequentemente o diagnóstico correto pode acabar demorando. Isso compromete o prognóstico do paciente, tendo em vista que, quanto mais cedo se inicia o tratamento, maior a chance de sucesso no controle dos sintomas.
Por que isso ocorre? A EM é uma doença autoimune, isto é, o nosso próprio sistema de defesa ataca uma região dos neurônios do nosso corpo, chamada de bainha de mielina. Com isso, eles passam a não funcionar adequadamente.
Durante esse processo de ataque, são liberadas várias substâncias (citocinas) que, entre outros sintomas, causam a fadiga. Elas também são liberadas em doenças infecciosas e outras doenças autoimunes. Por isso, ela é tão comum. Quer entender melhor? Acompanhe!
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O que é a fadiga?
Popularmente, ela é conhecida como falta de energia ou excesso de cansaço. Não é apenas uma leve indisposição para as atividades, ela é intensa e tira sua capacidade de se dedicar às atividades rotineiras. Você quer ficar deitado e dormir o tempo inteiro, nos dias úteis e nos finais de semana, para as obrigações e as atividades de lazer.
A fadiga, na maioria das vezes, não é sintoma de doença. Ela é resultado de um excesso de esforço físico ou mental durante o nosso dia a dia devido ao trabalho, às atividades físicas domésticas e esportivas, ao estresse, a uma noite mal dormida, entre outras causas.
Entretanto, nesses casos, quando você descansa e elimina o motivo do cansaço, ele não não é mais sentido.
Como identificar a fadiga na esclerose múltipla?
Por outro lado, nas doenças crônicas, como a esclerose múltipla, ela é mais duradoura. Não importa o quanto você descanse, a sensação de falta de energia permanece. Além disso, muitas vezes, o próprio paciente percebe que essa fadiga não é normal, e ele apresenta as seguintes características para o médico:
- “Doutor, esse cansaço não é normal. Não parece que meu corpo está pedindo descanso, parece mais o cansaço de quando eu estou gripado”;
- “Essa fadiga não vai embora de jeito nenhum. Eu durmo bem e descanso, mas nada dela passar”;
- “Essa fadiga parece mais uma depressão de tão forte que ela é. Fico desanimado, sem vontade de fazer nada e parece que cada músculo do corpo tá cansado”.
Além disso, as seguintes características podem aumentar a suspeita de fadiga na esclerose múltipla:
- ela já começa no início da manhã, piorando com o decorrer do dia (independentemente da sua rotina);
- ela ocorre em todas as atividades, mesmo aquelas que davam prazer e ajudavam a recuperar a energia;
- a sensação não é apenas física e parece atingir a mente.
Quais são os tipos de fadiga?
Na medicina, classificamos a fadiga em dois tipos principais: a primária e a secundária. No primeiro caso, ela ocorre por consequência da própria doença de base do paciente. Em geral, ocorre devido ao seguinte mecanismo:
- nosso corpo libera determinadas substâncias conhecidas como citocinas (IL-1, IL-6, TNF ou interferon), que atuam nos sistemas endócrino e nervoso;
- a partir disso, elas interferem no apetite, na quantidade de açúcar no sangue, na força muscular, entre outros pontos, para dar a sensação de falta de energia.
Esse é o caso da esclerose múltipla, que é uma doença caracterizada por um ataque do sistema imunológico — o principal produtor de citocinas.
Já a fadiga secundária pode ocorrer devido ao uso de medicamentos e outras doenças que aparecem em conjunto com a doença de base (as comorbidades). Por exemplo, o excesso de citocinas da esclerose múltipla compromete a capacidade de utilizar o ferro no nosso corpo. Como consequência, surge a anemia ferropriva (queda dos glóbulos vermelhos, as hemácias).
Portanto, para lidar com a fadiga na esclerose múltipla, a melhor medida é procurar um médico especialista (como o neurologista) o quanto antes. O tratamento adequado vai controlar o avanço da doença e reduzir o cansaço. Além disso, alimentar-se bem, ter uma boa rotina de sono e respeitar os limites do seu corpo contribuem bastante.
Quer saber mais sobre a esclerose múltipla? Então, confira nosso post completo sobre o assunto!
Dr. Matheus Trilico é neurologista referência no diagnóstico e acompanhamento de TEA e TDAH em adultos. Formado em medicina pela Faculdade Estadual de Medicina de Marília (FAMEMA) e com residência em Neurologia pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR) e mestre também pela UFPR. Além de atuar como neurologista em consultório privado e no Sistema Único de Saúde (SUS), realiza também atividades acadêmicas. Dr. Matheus Trilico acredita que o ser humano precisa conhecer bem sua saúde e, por isso, transmite as informações sobre o quadro clínico de forma clara e didática, reafirmando seu compromisso com a exímia relação médico-paciente. Amante da tecnologia, busca utilizá-la para agregar conhecimento e facilitar a vida dos pacientes, mas sem perder seu foco: o humanismo e a qualidade do atendimento médico.
CRM 35.805/PR – RQE 24.818