Blog do Dr. Matheus Trilico – Neurologista referência em TEA e TDAH adulto

A avaliação neuropsicológica do TEA em adultos

avaliação neuropsicológica

Muitos pacientes têm dúvidas sobre o que é a avaliação neuropsicológica, para que ela serve e quem a faz. Foi pensando nisso que convidamos o psicólogo clínico Mayck Hartwig para explicar melhor sobre a avaliação neuropsicológica do TEA em adultos. O texto abaixo foi redigido pelo próprio Mayck e, com certeza, vai te ajudar a entender melhor a importância desse instrumento no processo diagnóstico! Ficou curioso(a) e quer saber mais? Então continue lendo!

A avaliação neuropsicológica

MAYCK HARTWIG AVALIACAO NEUROPSICOLOGICA BANNER

O procedimento clínico para diagnosticar Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e outros transtornos do neurodesenvolvimento em adultos normalmente compreende avaliações extensas realizadas por uma equipe que inclui um neuropsicólogo e um psiquiatra ou neurologista totalmente treinado, podendo incluir também outros profissionais.

O neuropsicólogo realiza um exame chamado Avaliação Neuropsicológica, que envolve uma série de procedimentos específicos, dentre eles a anamnese clínica com o paciente e um familiar, aplicação de testes psicológicos, escalas de autorrelato e heterorrelato, observação e escuta clínica.

A Avaliação Neuropsicológica é um exame que tem como objetivo investigar as funções neurocognitivas, emocionais e comportamentais do paciente, tais como: atenção, memória, inteligência, linguagem, emoções, personalidade, sensorialidade, habilidades sociais et cetera. A duração da avaliação varia de acordo com a complexidade da demanda.

Ao final do processo avaliativo, o paciente recebe um relatório neuropsicológico ou laudo psicológico onde constam os resultados de todo o exame e o diagnóstico, se for o caso. Com a avaliação neuropsicológica em mãos, o médico e outros profissionais de saúde têm recursos mais seguros para tomar as melhores decisões clínicas.

Quais escalas utilizar na avaliação neuropsicológica?

Umas das perguntas que mais recebi de psicólogos que estão iniciando o processo de avaliação com pessoas autistas é: quais testes utilizar para diagnosticar TEA em jovens e adultos? Diante disso, quero fazer uma provocação: qual a técnica mais importante que aprendemos e treinamos durante a graduação em psicologia?

A escuta qualificada

Pois bem, a escuta qualificada possibilita a humanização das práticas de diagnóstico. É inviável diagnosticar sem escutar o que o paciente tem a nos dizer. Costumo dizer, em minhas aulas, que os testes e as escalas são úteis para confirmar boa parte do perfil que já identificamos previamente na anamnese.

Particularmente gosto de utilizar escalas e questionários – acredito que eles são muito úteis durante a avaliação, uma vez que facilitam a interlocução entre o avaliado e o neuropsicólogo, além de aferirem com mais precisão as características que precisamos avaliar. Entretanto, escalas de autorrelato são passíveis de sofrerem a influência de algumas variáveis que podem enviesar os resultados. É preciso cuidado ao analisa-los.

Dito isso, a principal escala utilizada para avaliar TEA em adultos no Brasil é a Escala de Responsividade Social – SRS 2, instrumento válido e confiável para rastrear sinais e sintomas de TEA em população brasileira. Ela pode ser aplicada ao paciente e aos seus familiares. O heterorrelato, aliás, é imprescindível em uma avaliação.

Vale destacar ainda que o principal objetivo de uma avaliação neuropsicológica é traçar o perfil cognitivo, social, emocional e sensorial do paciente. Para isso, testes de avaliação da atenção, memória, inteligência, personalidade, inventário de habilidades sociais, escalas de avaliação do humor entre outros, podem ser
utilizados, a depender da complexidade da demanda.

Mas, lembre-se que o momento mais precioso de uma avaliação é a anamnese. Uma boa avaliação neuropsicológica é aquela que considera os dados qualitativos como soberanos e os testes e escalas como parte do processo, não a única via.

Contribuições para o diagnóstico diferencial

A avaliação neuropsicológica tem um papel importante para o diagnóstico do TEA em jovens em adultos. Durante uma avaliação neuropsicológica, traçamos o perfil cognitivo, social, emocional e sensorial do paciente, facilitando assim o diagnóstico diferencial.

Nem todas as pessoas que buscam pela avaliação neuropsicológica do TEA atendem aos critérios diagnósticos para tal – outras condições podem apresentar sinais e sintomas parecidos e acarretar prejuízos sociais e comunicativos. O diagnóstico correto é imprescindível para o processo de autoconhecimento do avaliado e para a tomada de decisão clínica mais assertiva.

Diferenciar se um paciente tem TEA, se tem outra condição ou se tem TEA associado a outras comorbidades, é o objetivo principal do diagnóstico diferencial.

É importante destacar que os sinais e sintomas do TEA estão relacionados à atipicidades na comunicação e interação social e/ou adesão rígida a rotinas, movimentos repetitivos, gama restrita de interesses e/ou alterações sensoriais.

Uma história de comunicação e socialização atípica distingue TEA de outras condições. Para diagnostica-lo, além de considerar a queixa atual é preciso um olhar atento para o desenvolvimento e para a evolução das comorbidades, se houverem.

A sessão devolutiva

A sessão devolutiva é um momento estritamente importante de um processo de avaliação neuropsicológica! É o momento em que os resultados e o diagnóstico serão discutidos com o paciente, assim como os encaminhamentos necessários.

É crucial que, na sessão devolutiva, o paciente entenda o seu perfil neurocognitivo, social, emocional e sensorial e como tal perfil é explicado pelo diagnóstico em questão.

Para que o paciente engaje no tratamento indicado no momento da devolutiva, é necessário que ele entenda a importância dos encaminhamentos para promoção de qualidade de vida. Uma boa devolutiva pode auxiliar nesse processo.


Considerações finais

Nesse texto, o psicólogo clínico Mayck Hartwig explicou a importância da avaliação neuropsicológica, principalmente como parte do processo diagnóstico do TEA em adultos. Sabemos que, embora não seja legalmente obrigatória, esse processo – se muito bem feito – e somado à avaliação médica especializada, torna o diagnóstico de uma condição complexa como o TEA ainda mais confiável. O Mayck faz parte de nossa rede de profissionais recomendados e você pode acessar os dados de contato dele aqui.

Gostou do assunto? Então veja também o podcast gravado com o Dr. Drauzio Varella:

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