A ecolalia é definida como a repetição de frases inteiras ou palavras, essas normalmente no final de uma frase, gerando a sensação de “eco”. A ecolalia pode estar presente no autismo, inclusive em adultos. Quer entender mais? Então este texto é para você!
Principais Tópicos Deste Artigo
O que é ecolalia?
A palavra “ecolalia” tem origem grega, onde “echo” significa “repetir” e “lalia” significa “discurso”, também sendo denominada ecofrasia. Trata-se, portanto, da repetição não solicitada de declarações feitas por outros. É um dos fenômenos de eco mais comuns e é um comportamento generalizado, não voluntário, automático e sem esforço. A ecolalia pode ser um achado normal durante o desenvolvimento da linguagem em crianças, embora presente em até 75% das crianças com autismo.
Quais doenças causam ecolalia?
A ecolalia é um importante distúrbio da fala que foi caracteristicamente descrito em crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) por Kanner em 1943. Apesar disso, ela não é exclusiva do TEA, podendo ocorrer em outras doenças. A seguir listamos as principais:
- Demências
- Afasia Primária Progressiva
- Degeneração córtico-basal
- Paralisia Supranuclear Progressiva
- Traumatismo cerebral
- Síndrome de Gilles de la Tourette
- Deficiência intelectual
- AVC
Por que ela acontece?
Sua origem exata não é totalmente compreendida. A imitação e a repetição da fala fazem parte do desenvolvimento normal da linguagem nos primeiros anos de vida, melhorando ao longo dos 2 primeiros anos. A autorregulação da fala e da linguagem se desenvolve por volta dos 3 anos de idade em crianças típicas. A ecolalia patológica é aquela que persiste além dessa idade.
Alguns pesquisadores postularam as hipóteses do “sistema de neurônios-espelho quebrados” e da “riqueza de estímulos” para explicar os comportamentos de linguagem imitativa vistos no TEA. A desregulação dopaminérgica também foi considerada um mecanismo neurobiológico passível de gerar fenômenos de eco.
Apesar de todas essas hipóteses e pesquisas, o mais concreto atualmente é que a ecolalia esteja possivelmente relacionada à disfunção do lobo frontal. O distúrbio foi bem relatado em lesões do lobo frontal medial esquerdo e áreas motoras suplementares.
Quais seus tipos?
Embora muitos pensem que só existe um tipo, não é bem assim. Os profissionais e estudiosos da área dividem o distúrbio em alguns subtipos. Apenas como exemplo, vamos citar dois deles:
- Ecolalia imediata: refere-se à repetição da fala imediatamente após o enunciado. Pode ocorrer, por exemplo, quando a mãe pergunta se a criança quer almoçar e em vez de responder que sim, a criança repete logo em seguida: quer almoçar!
- Ecolalia tardia: refere-se à repetição da fala algum tempo após o enunciado e, por isso, fora de contexto. Pode acontecer, por exemplo, quando o paciente com TEA assiste a um filme e depois de algumas horas repete algumas frases do que assistiu.
Um distúrbio ou uma forma de comunicação?
Historicamente, a ecolalia foi descrita como um distúrbio da fala sem sentido. No entanto, a literatura recente sugere que ela possa ter sim uma função comunicativa. Tanto a forma imediata quanto a tardia podem ser comunicativas (repetição com um propósito aparentemente significativo e comunicativo) ou semi-comunicativa (repetição sem propósito comunicativo claro).
Quando falamos da ecolalia no autismo, ela pode inclusive ser a melhor forma de comunicação com muitos pacientes. Um belo exemplo disso é o abordado no documentário ganhador de vários prêmios “Vida, Animada” (do inglês “Life, Animated”), que retrata o jovem autista Owen.
Depois de ficar muitos anos sem falar, a forma como se identifica com personagens conhecidos da Disney, como Simba, Jafar, Mogli e Peter Pan, ajuda Owen a expressar verbalmente como se sente a respeito dos eventos de sua vida. O documentário retrata o uso da ecolalia “tardia” de forma funcional, usando as falas dos personagens para se expressar no contexto do autismo.
Ecolalia tem tratamento?
Seu tratamento depende da etiologia. O manejo da ecolalia relacionada ao autismo requer uma equipe multidisciplinar, incluindo pais, especialistas em neurodesenvolvimento, terapeutas, psicólogos e educadores especiais. A chave para controlá-la em crianças é saber o motivo da repetição da fala, o significado por trás da repetição e responder de maneira a ajudar esse pequeno paciente a aprender a se comunicar. Observar, ouvir e esperar durante a interação e conversa da criança ajuda a reunir mensagens por trás da fala ecolálica.
Embora tenhamos usado diversas vezes o termo “criança” nesse texto, a ecolalia também pode estar presente nos adultos com autismo requerendo, da mesma forma, uma abordagem multidisciplinar.
No artigo de hoje explicamos o que é ecolalia, mostramos que aproximadamente 75% dos autistas apresentam esse distúrbio, bem como que ele pode estar presente em outras doenças. Exemplificamos as principais formas de ecolalia e como deve ser feito o acompanhamento de pacientes, principalmente autistas, com esse sintoma. Gostou? Então siga-nos nas redes sociais e receba nossos posts em primeira mão!
Dr. Matheus Trilico é neurologista referência no diagnóstico e acompanhamento de TEA e TDAH em adultos. Formado em medicina pela Faculdade Estadual de Medicina de Marília (FAMEMA) e com residência em Neurologia pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR) e mestre também pela UFPR. Além de atuar como neurologista em consultório privado e trabalhou por anos no Sistema Único de Saúde (SUS), realizando também atividades acadêmicas. Dr. Matheus Trilico acredita que o ser humano precisa conhecer bem sua saúde e, por isso, transmite as informações sobre o quadro clínico de forma clara e didática, reafirmando seu compromisso com a exímia relação médico-paciente. Amante da tecnologia, busca utilizá-la para agregar conhecimento e facilitar a vida dos pacientes, mas sem perder seu foco: o humanismo e a qualidade do atendimento médico.
CRM 35.805/PR – RQE 24.818