Hiperfoco – o que é e como se manifesta no autismo e no TDAH?
O hiperfoco é um fenômeno que reflete a absorção completa de uma pessoa por determinada tarefa, de tal forma que ela chega a ignorar completamente o ambiente ao redor ou ‘se desligar’ de todo o resto. Esse sintoma é mais frequentemente mencionado no contexto do autismo, da esquizofrenia e do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e, embora aparentemente autoexplicativo, ele é pouco definido na literatura. Quer entender melhor sobre o assunto? Então foco em nosso texto!
Principais Tópicos Deste Artigo
O que é hiperfoco?
Como dito, trata-se de um fenômeno que reflete a absorção completa e mantida de uma pessoa por uma tarefa. Geralmente isso ocorre quando se está envolvido em uma atividade que é particularmente divertida ou interessante. Um exemplo de hiperfoco é quando uma criança fica absorta em um videogame a ponto de não ouvir um pai chamando seu nome. Nesse caso, estamos falando de não ouvir mesmo e não de ignorar propositalmente o chamado.
Embora a maioria das pessoas neurotípicas provavelmente relate experimentar um estado de hiperfoco em algum momento de sua vida, ele é mais frequentemente mencionado no contexto do autismo, da esquizofrenia e do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) – condições que têm consequências nas habilidades de atenção do paciente. Infelizmente, são poucas as pesquisas sobre seu efeito no funcionamento cognitivo e neural.
Quais as principais características do hiperfoco?
Apesar da escassez sobre esse assunto na literatura científica, parece haver quatro características gerais que são relatadas de forma consistente:
- O hiperfoco é induzido pelo engajamento na tarefa;
- O hiperfoco é caracterizado por um estado intenso de atenção sustentada ou seletiva;
- Durante um estado de hiperfoco, há uma percepção diminuída de estímulos não relevantes para a tarefa;
- Durante um estado de hiperfoco, o desempenho da tarefa melhora.
O hiperfoco no TDAH
Já explicamos o que é o TDAH em um artigo específico. De forma simplificada, podemos relembrar que ele é caracterizado por hiperatividade, impulsividade e desatenção clinicamente significativas (isto é, interfere na vida diária do paciente). Vale ressaltar que, apesar de seu nome aparentemente autodescritivo, o TDAH não é apenas um distúrbio de atenção, mas também de funções executivas
Parece estranho dizer que uma pessoa com déficit de atenção tenha hiperfoco, não é? Entretanto, pesquisadores descobriram que pacientes com TDAH experimentam hiperfoco com mais frequência do que pessoas neurotípicas saudáveis, tanto em geral quanto em uma variedade de configurações específicas (na escola, durante hobbies, durante o “tempo de tela” e no “mundo real”).
Além disso, embora essa situação seja aparentemente antagônica ao TDAH, ela muitas vezes é relatada como um estado positivo em indivíduos com o transtorno porque esses pacientes, quando em hiperfoco, realmente se envolvem em tarefas por períodos de tempo mais longos do que o normal.
O TDAH é sinônimo de um alto grau de distração e de um curto período de atenção. No entanto, os estados de hiperfocagem frequentemente relatados nessa condição sugerem que indivíduos com TDAH podem, paradoxalmente, manter a atenção excessivamente.
O hiperfoco no autismo
O autismo (TEA) é um complexo transtorno do neurodesenvolvimento que pode afetar as habilidades sociais, de comunicação, sensoriais, de autorregulação e diversas outras (explicamos melhor sobre o TEA em um texto específico do site ). Dentre seus principais sintomas está o hiperfoco.
Indivíduos com autismo muitas vezes exibem um foco exagerado em um determinado comportamento ou tópico. Isso pode significar estudar incansavelmente sobre um assunto específico, colecionar determinados objetos como brinquedos e cartões-postais, assistir repetidas vezes o mesmo filme dentre outros.
Considerando-se que frequentemente o cérebro neurodiverso sofre de sobrecarga sensorial, o foco em algo pode ser um alento aos pacientes, proporcionando refúgio durante o estresse e situações desconfortáveis. Pensando nisso, é possível explorar o hiperfoco em benefício do paciente autista.
Muitos profissionais utilizam esse sintoma a favor da aquisição de novas habilidades e aprendizados, incluindo na área da educação. Por exemplo, crianças que amam história podem ser professores da disciplina muito bem-sucedidas!
Neste texto mostramos para você que o foco exagerado é um sintoma comum de alguns transtornos, principalmente do TEA e do TDAH. Explicamos também que é possível usar esse foco em benefício do paciente, necessitando orientação adequada para tal. Se você gostou e quer conhecer mais características comuns no Transtorno do Espectro Autista, leia nosso texto sobre estereotipias!
Dr. Matheus Trilico é neurologista referência no diagnóstico e acompanhamento de TEA e TDAH em adultos. Formado em medicina pela Faculdade Estadual de Medicina de Marília (FAMEMA) e com residência em Neurologia pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR) e mestre também pela UFPR. Além de atuar como neurologista em consultório privado e no Sistema Único de Saúde (SUS), realiza também atividades acadêmicas. Dr. Matheus Trilico acredita que o ser humano precisa conhecer bem sua saúde e, por isso, transmite as informações sobre o quadro clínico de forma clara e didática, reafirmando seu compromisso com a exímia relação médico-paciente. Amante da tecnologia, busca utilizá-la para agregar conhecimento e facilitar a vida dos pacientes, mas sem perder seu foco: o humanismo e a qualidade do atendimento médico.
CRM 35.805/PR – RQE 24.818
